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Quanto vale uma mulher no Hip Hop?

Foto do escritor: CoolTure TripCoolTure Trip

E ainda, quanto custa ser uma mulher na cena?

Foto de Martha Cooper - Subway Art
Foto de Martha Cooper - Subway Art

Somos injustiçadas pela história, nem só pela história do Hip Hop, como nossa história quanto sociedade... não reconhecimento de direitos, de cidadania, de ir e vir, o não reconhecimento de qualquer coisa além de reprodução e servidão.


O breaking, o graffiti, os djs e mcs já ferviam na década de 70/80 e você sabe, nós todos sabemos da festa da Cindy, especial de volta às aulas, que convidou o irmão Kool Herc, todos sabiam o que estava acontecendo em NY... menos as mulheres.

Nessa época grande parte estava sendo o par de alguém, cuidando dos filhos que não fizeram sozinhas, acobertando crimes dos parceiros, se envolvendo nas gangues, sendo objeto de desejo e símbolos de poder masculino. Não era culpa delas, era a opressão social da época, do local, da condição socioeconômica, do racismo.

Embora essas mulheres tenham, mesmo no papel secundário do rolê, sustentado de certa forma para que os protagonistas pudessem ocupar esse lugar, ainda não é aonde gostaríamos de nos ver na história.


Aos poucos, nosso protagonismo começa a aparecer, e falando sobre gangues, parte da história de onde a cultura tem forte influência, temos Lorine Padilla, primeira membro da lendária Savage Skulls, no documentário La Madrina:


A postura, a fala, o posicionamento de Lorine, desenha um estereótipo de resistência das mulheres do Hip Hop.

Quem nunca se posicionou na cena e teve que ter a força de 10 homens pra segurar o rolê?

Assim como Lorine, diversas outras mulheres foram 1 em meio a muitos para podermos ter nossos corres reconhecidos, nossos nomes creditados, nosso lugar na cypher, nos muros, nos beats. "Nós estávamos lá segurando essa merda toda" afirma Lorine, que ganhou um documentário contando a sua história apenas em 2022, pelas mãos de outra mulher, Raquel Cepeda, diretora do doc.


Através dos caminhos de Lorines, Pinks, Cindys, Marthas, Roxannes... é que nos sentimos pertencentes e importantes, são elas que nos inspiram e inspiram também a outras como nós, a seguir ocupando e expandindo o espaço sempre que possível.


Mas ainda assim....

A sociedade nos diz que devemos ser "polidas", recatadas, princesas, falar baixo, pesar menos, não aparecer muito, agradecidas, ganhar pouco.

É possível o Hip Hop nos dizer essa mesma coisa?

É possível julgarmos uma reação sem considerar o contexto?


Não temos como desvincular o que somos em sociedade com o que somos quanto Hip Hop.

É nesse ponto que perdemos um pouco.


Recentemente, um b.boy se envolveu em uma treta que não foi chamado, uma b.girl agrediu e saiu agredida, e todos nós estamos com os dedos apontados para as mulheres:

ELA defende o cara!

ELA bateu no cara também!

ELA bebeu!

ELA não respondeu!

ELA mereceu.


Não é simples, há toda uma estrutura social e machista por trás desse rolê, é mais do que escolher "um lado" ao ter tantas camadas.

Mas ainda me impressiona que o foco seja as mulheres, e não a agressão do cara.

Isso só contribui para o enfraquecimento de uma cena já fragilizada (e quando vamos em podcasts nos perguntam: Por quê não há tantas b.girls nos eventos?).


Quanto custa ser uma mulher no hip hop? Bem, custa a exposição da violência e também o julgamento da reação, custa uma carreira, uma necessidade de dizer o óbvio, custa saber se defender, saber responder. Custa saber aonde tá se metendo, exige malandragem. Custa você não poder nem resolver suas próprias tretas.


Porque se você não sabe brincar, pode até descer pro play, mas vai ter que aprende a jogar.

Coolture Trip - Heliópolis 2025
Coolture Trip - Heliópolis 2025

Mulheres são o primeiro espelho de todo ser humano... essenciais na história, mesmo que no banco de reserva, quando nem se podia vestir a camisa ainda.


La Madrina nos ensina que resistência é a chave, ocupar, reagir, ouvir, posicionar, atacar às vezes, sim, mas fazer com inteligência.


Somos importantes, parte de um contexto, e não, não precisamos nos amar só porque somos mulheres, mas não podemos deixar que as nossas diferenças, ultrapassem o limite do respeito.


Se mulheres são resistência, eu não vejo nada mais Hip Hop que elas na cena.


Quanto vale uma mulher no Hip Hop?

Vale uma cultura inteira.

 
 

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